terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Desmantelo
Marcus Groza

desculpa
mas eu disse
que era desleixado
de todo modo
assim ficamos quites

o seu zoológico particular
que você deixou aos meus cuidados
esqueci de porta aberta
o seu cão bicéfalo hoje azeita
a roda dos carros
e late
decepou à unha a outra cabeça
que você nele tinha implantado

o seu cirquinho de pulgas de menino
eu ia preservar juro
mas caiu no vão entre o trem e a plataforma
as pulgas desinibidas fugiram logo
as mais lerdas ainda adornam
um picadeiro de borracha improvisado
pras suas quedas sem aplauso
e promovem sessões de sauna pra baratas

antes que eu soltasse as feras
dia desses deu um desgraçado quebra quebra
um besouro veterano de guerra
disse para uma das baratas voadoras
que ela voava às tontas toda lerda

mas nem tudo é desmantelo
há um certo consolo
do que foi seu zoológico
ainda resta um unicórnio
e os gatos
que agora moram na vizinhança
e nos visitam de vez em quando


Marcus Groza é poeta, dramaturgo e ficcionista. Autor do livro Do Buraco à Poça (Patuá - 2013). É doutorando em Artes Cênicas (Unirio) e prepara o livro Sossego Abutre (no prelo).

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