Poemas classificados para votação no blog. Os textos não estão em ordem de classificação. A votação será realizada nos nos dias 14 a 17 de agosto.
1
Cavalos-marinhos,
ou como a maré nos leva
Diego
Malachias
Meu
velho perdeu a vida
na maré que escavaca
que vem, que parte, mas
volta
Era num mar
de álcool e bebida
que
ele boiava em ressaca.
De
tarde no litoral
eu evitava as pegadas
que ele fizera na
aurora.
Numa cauda em
espiral
eu
li vidas indagadas.
Lá
um cavalo-marinho,
encalhado, morto, grávido,
com a cauda perguntava:
“Por que
caminhas sozinho?”
E
voltava ao mar impávido.
Sem
eu poder contestá-lo,
papai mergulhou no mar,
embriagado, e disse:
“Vou ali
caçar cavalo,
mas
devo logo voltar.”
E
vendo o cavalo morto,
“Com qual cavalo ele está?”,
hoje me indago em meus
prantos.
E caço em
tudo que é porto
em
qual maré voltará.
O
seu mar em mim entorna,
molha o cinto e o colarinho
como
na canção descubro:
nem
tudo que vai retorna.
Vejo
um cavalo
mar
i
nho.
2
O
meu mar
Tiara
Camargo
E, na imensidão do meu mar de ideias,
busco por uma que me faça aportar em terra firme.
Ou deixo-me levar pela maré
e aprendo, de vez, a nadar.
3
Inerte
Tiago André Vargas
O céu revolto se debatia sobre a janela
Tudo era negro ou quase
O vento de luto
Minha camisa sem botão
Saí pela porta
Pus as mãos sobre os olhos
Areia voava
Grãos cinza que não eram cinzas voavam como cinzas
O banco da praça não voava mas parecia querer
Andei para o mar
Sentei-me na areia
Assisti tudo girar
Plainar
Zumbir
As latas de alumínio esboçando decolo
Sem sol para fazê-las brilhar
E não havia cães
Árvores
Vida
Contemplava um desenho a carvão inacabado
Desenho cujo artista jogou fora
Como pôde não amassar?
As ondas eram empurradas contrariadas para mim
Fugiam repulsivamente de volta
Eram negras
Escuras como olhos de ratos
E tinham medo de mim
Fugiam de mim
E o desenho foi rasgado ao meio
Uma pipa brilhante
Voando alto
Voando baixo
A única coisa que voava
A única coisa que tinha vida
A única coisa colorida
Eu quis pegá-la
Poderia tê-lo pega
Mas hesitei por um momento
O tempo de uma onda quebrar
E ela voou mais alto
Além
E eu me tranquilizei
Pois agora não mais poderia tê-la
Nem que corresse
Nem que voasse
Ela se foi
Depois a tempestade cessou
Surgiram duas ou três cores
Um cão amarelo queimado
Uma lata de cerveja iluminada pelo sol
Uma banhista pálida
E tudo me pareceu ainda mais cinza
E as ondas não tinham mais medo de mim
Elas riam de mim
Sorriam como ratos
Quebravam nos meus pés
Falsas
Estavam de luto por um desconhecido
E eu também
4
A TRADUÇÃO DO MITO
Elias Antunes
Traduzir o
olhar no espelho
do homem e
esse oscilar
de bambu ao
vento.
Traduzir os
latidos do tempo
E a chaga
aberta como
Uma rosa
dolorida,
Expondo sua
condição
De carne
condenada
ao dia.
Traduzir a
canção despedaçada
Como uma
borboleta
corrompida.
Traduzir as
manadas de luas
No poema
inútil.
Traduzir a
mágica possível
No lodo
irrevogável.
Traduzir os
escritos no
Muro entre
mamíferos.
Traduzir as
marés que vacilam.
Traduzir a
linguagem
Da alma, de
perdão ou de
sombra.
5
Maré
Raiana Soares Oliveira Cruz
Querido,
Me desculpe por tanta oscilação
Se teu sentimento é tocha
O meu é vulcão
Sinto muito se te
confundo
Se neste mar
Te arrasto para o
fundo
E fujo para praia
Amo o teu calor
Mas quero a
liberdade
De um beija-flor
Querido,
Entenda como é
Se o teu amor
É um lago constante
O meu é a maré!
6
Solidão
me fez maré
Ribamar
Junior
Não
sou egoísta suficiente
Pra
dizer que ando com a
Razão
Pois
tenho medo de te perder
e
me perder por querer
o
que não sei se é meu
Então
Cobre-me
em teu lençol
Pra
eu esquecer que a minha ganância
Existe
Que
eu estou parado
Tentando
quebrar o mar
Que
desfaz o silêncio de se suportar
Sim
Como
as pedras do Arpoador
Eu
chorei
Calado
7
Genealogia
da maré
Luciano
Machado Tomaz
Ouçam o mar! Ouçam, com calma, o mar.
A música natimorta, que está e não está.
Que sossega meu corpo débil; que exala.
Das profundezas mais excelsas,
Um deus desaba
Nos braços de uma mulher.
Atravessada por mil verões,
Vem à tona a maré.
8
MARÉ
Poeta Paz (Paulo Azevedo)
Os novos homens acordam
Em vez de uma foice nos olhos
Carregam a ternura no gesto
E um filho no colo
...
No antebraço, um espelho
Memórias esquecidas
E tatuadas no tempo
...
Os novos homens navegam
Na direção de outros mares
...
Um pai a chorar
...
A maré sobe
9
Ao mar
Isabella Luiz
A maré me trouxe você
O papel em que escrevi teu nome e joguei ao mar
A dor de ler cada palavra, o código que forma, a pronúncia
Leio com a mente e parece que grito
E ecoa, e o amar trás de volta, o suplício.
O sal do mar, o sal das lágrimas.
Um mar de querer, e de ir
O esforço que fiz não foi o suficiente
O amar era mais forte, e trouxe de volta
Minhas letras manchadas num papel.
Talvez no fundo soubesse
Que o mar sempre devolve o que pertenceu a terra
Assim como meu mar de lembranças
Que vai e volta da mesma forma.
10
IZABELA RAMOS
O mar
Um morro de esperança
Que cede.
Inconstante
Que dança
Rasgando o pano do vento
Minha esperança morre
No mar, nos mares
Em um.
Que sede...
Eu morro no mar
Morrendo de medo
Do tamanho
Do peso
Na significância do mar
A esperança vai...