CHUVAS
Elias
Antunes
Como esta chuva
Que sorvo em minhas mãos,
Assim a areia do tempo
Transforma meu ser;
Tenho apenas o canto
Da cigarra morta
Nesta solidão do mundo das
palavras;
Tenho apenas o osso,
O sacrifício da ausência
indomável,
semente do nada;
Tenho apenas as redes da
matéria bruta
Tragando os peixes-poemas,
Canções do acaso, gritos
mudos, bois e lobos
no olho esquecido;
Tenho apenas o tumulto
Nesta grei onde se confia à
Aurora e às estrelas.
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