sábado, 14 de janeiro de 2017

Poemas selecionados para votação até dia 17 de janeiro

1

CAVILAÇÕES
Elias Antunes

Ruminando os capins da memória.
Manada era seu nome, pois muitos havia.

Um cão latindo contra o não.
Contra o relógio do tempo.

Esse corpo preso em
Jaulas/apartamentos,
Contaminado pela
Ferrugem dos anos.

O tempo cai como
Chuva de fogo
Sobre esse corpo
Decrépito
Que amou e sofreu.


2


                  O relógio
Reginaldo Costa de Albuquerque


Velho relógio de parede altivo,
tarde dormita na moldura fria;
cedo palpita em tom evocativo,
num eucológio anunciando o dia.

Às vezes, creio que ele é um ente vivo,
um anjo à toa que a memória cria...
Salta, anda, voa... Canta sem motivo...
E agrada em cheio sua voz macia!

Gentil assim, terá crenças?... Bondade?...
Eis que o jardim trescala uma saudade!
Surge de luto um sonho fenecido...

Num gesto bruto, atira o objeto fora!
Na agitação, o tique-taque implora...
Treme, no chão, meu coração partido...


3


A Joia sem Pudor
Maria Caroline Stone

Me sinto como um estranho
caminhando
em desertos lotados
á passos folheados por um Vazio sem Pudor
regulado

O teu Amor 
costumava ser o meu Rancor
e tua Dor, o sabor

Só que naquele átomo de instante
                                                 - último verbo dos versos malditos-
                                                  dominical,
os seus Olhos tornaram-se as horas iguais
de um relógio sem pilhas
que me esqueci de explodir mentalmente
                            [em minha ilha].



4

Relíquia
Dayse Sobral

Eu queria guardar todo o tempo dentro de uma caixinha minúscula, assim tão miúda que coubesse dentro da minha mão. Eu queria registrar o momento exato da chegada sem esquecer a tua saída. Guardar tantos olhares fugitivos e os passos mais apressados...



5


Tic-tac
Emanuela Rodrigues


Tic-tac, segue o pêndulo indeciso;
Tic-tac, caem pingos de goteira;
Tic-tac, o cardíaco regressivo;
Tic-tac, no abismo de areia.   



6



Impressões sobre o tempo
Thássio Ferreira

À fluidez ácida dos dias e horas
contrapõe-se o bruto imobilismo cáustico dos minutos
rígidos, duros, incomunicáveis,
indissolúveis nos abstratos vazios entre si.
À miscelânea de sóis e luas
e sonos e sons
os minutos permanecem puros,
sem se misturar, sólidos, conflituosos,
relutantes em ceder lugar a seus companheiros?
Não! Seus seguidores? Não! Seus oponentes,
enquanto seus mestres, seus patrões
entregam-se a orgias
mesclando-se e fundindo-se uns aos outros.

Mas essas são apenas impressões sobre o tempo
que as engrenagens dos relógios não podem ouvir...


7


Tempo
Rosana Mezzomo Oliveira

Tanta gente que passa
Tanta gente que fica
Tantos anos sem graça
Tantos anos sem vida.
Mudanças...

Anos viram velhos
E novos
“No meu tempo”
“Agora”
“Daqui a cinquenta anos”
Mudanças...

Fotos amareladas,
Rosadas, marrons.
Um arco-íris
Na antiga caixa das recordações.

Momentos vividos
Momentos a serem vivenciados.

Memórias para recordar,
Datas importantes,
Dias ruins para não lembrar,
Tudo está sempre a mudar...

O relógio não para,
O tempo não cessa,
E a cada segundo
Crio novas memórias
Crio novas ideias
Para sempre guardar.


8


Transitório
Jessyca  Santiago


Muro de tijolo maciço,
Telha de forno de barro,
Feira nas manhãs de sábado
Bem cedo em frente a igreja.

Um cão deitado na rua
Observa o carro que passa,
O relógio no centro da praça
Já há muito não quer trabalhar.

Ninguém avisou que é Inverno
Á flor a beira da encosta,
As crianças correm descalças
Por onde o tempo caminha devagar…

De belo e eterno, dizem ser, só o
Sonho, mas a memória eterniza
A brevidade da gente dessa cidade
Que não se importa de com o tempo
Passar…


9


REM
Natanael Otávio

Aproximam-se
Os ponteiros do relógio
Da hora marcada para despertar.
Sempre estou voando,
Mas nunca sei aonde irei pousar.
Por isso estou deixando
Uma trilha para saber voltar.
Imagens póstumas e viventes,
Verdades distorcidas em sonhos eloquentes:
Um palácio de vidro,
Um gato latindo,
Uma bruxa que, de repente,
Se transforma em meu amigo...
Canta à beira de um lago uma mulher,
Remam em dissonância dois remadores,
Um para voltar e o outro para seguir seus labirintos.
Ela estava à beira de um lago ou de um abismo?
Nua Minha Sua (de) Ninguém.
Ela irá embora,
Tudo irá embora,
Quando o relógio despertar.


10



Lapso do beijo
Anderson Carlos Maciel


Soa
Flui, acordo, trôpego
E clichê.

Ele
O tempo, - e você

Dia cinzento
Aqui, dentro, - do peito
Um pleito em te ver

Contra o relógio
Poemas, unguentos das horas
Afora o sentimento
Atômico
Randonômico

Sofro, - olho
Confiro, infiro, - choro
Tropeço nos ponteiros
Dos teus botões

Teus cabelos soam
O alarme do lapso
Do meu beijo.




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