Textos classificados (não publicados) no Desafio Literário de Fevereiro
3º Lugar- Tahira-Can Campos Machado Sanches –
Iguais e diferentes
Era uma segunda-feira como qualquer outra. Um
dia quente, o céu azul meio embaçado, como é comum em lugares onde o clima é
seco. As pessoas ainda meio sonâmbulas iam e vinham apressadas para chegar a
tempo no trabalho, escola e outras obrigações normais do dia-a-dia.
Sentada naquele ponto de ônibus comecei a
fazer o que sempre faço quando estou em lugares cheios de gente. Comecei a
observar rostos, expressões e atitudes daquelas pessoas ao redor. Analisando
assim podia ver muitas diferenças que me fizeram pensar em como o ser humano é diversificado
mesmo sendo da mesma raça, cultura e país.
Antes que eu tivesse tempo para analisar cada
um dos que estavam parados ali comigo chega o ônibus que quase todos estávamos
esperando. De repente, todos juntos correm em direção à mesma porta, e no meio
da correria fico no fim da multidão esperando para poder subir também. Mas algo
impressionante acontece naqueles poucos segundos. Uma mulher no meio da
multidão olha para trás e vê que um ônibus com o mesmo destino para.
- Outro ônibus! – ela grita enquanto corre em
direção a ele.
Não deveria ter me surpreendido tanto com o
que aconteceu em seguida já que várias vezes vi a mesma cena se repetindo. Sim,
todas as pessoas na minha frente, desesperadas e com medo de ser prejudicadas
correram para pegar o ônibus de trás.
- O de trás deve estar vazio, vamos! – uns
diziam.
- Rápido que vai embora e nos deixa!- uma mãe
falava para filhinha enquanto arrastava a pequena pela mão.
Continuando com minhas reflexões anteriores
aquelas pessoas já não pareciam tão diferentes umas das outras. Agora, diante
de mim já não havia ninguém além de uma senhora de mais idade que já tinha o
primeiro pé no degrau do ônibus e que olhava para trás com uma expressão triste
como se dissesse:
- Ah se eu tivesse quinze anos menos...
Estaria subindo naquele outro ônibus antes de todos.
O motorista, acostumado a me ver naquele
horário, me recebeu com um bom dia e um sorriso entre alegre e zombador.
Disse-me:
- Não quis pegar o ônibus de trás?
Parada na roleta olho pra dentro todos os
bancos vazios, olho de novo para o motorista e com um sorriso de alívio
respondo:
- Acho que prefiro viajar sentada.
4º Lugar -A primeira viagem de ônibus
Marli Schiefelbein Arruda
Aninha
morava com sua família numa cidade do
interior. Mudara-se para lá, pois ela faria sete anos e frequentaria a escola.
Antes morava num pequeno vilarejo chamado Alegria onde ficou sua amiga Mara. O
pai de Mara administrava a pequena rodoviária do local juntamente com um bar.
Ficava no centro do pequeno vilarejo. As
amigas visitavam-se com frequência. Os pais também eram amigos.
Num
feriado, a família de Aninha foi visitar a de Mara. Foi muito gostoso. As duas mataram a saudade e brincaram muito.
Quando chegou a hora de ir embora, Aninha pediu para ficar, afinal não teria
aula. Somente na segunda-feira. Os pais não permitiram, pois não poderiam buscá-la. O pai de Mara então
disse:
-
Deixem ficar. As duas brincam e conversam. Não incomodam. Deixa que eu coloque
ela no ônibus das 17h domingo. Vocês só
a buscam na rodoviária.
-
Será? Ela nunca andou de ônibus sozinha.
-
Bem, sempre há uma primeira vez -
concluiu com praticidade
-
Você nem trouxe roupas e vai ter que voltar de ônibus filha. Você quer?
-
Sim. Quero brincar mais. A gente fez uma casinha muito legal e roupas para as
bonecas.
-
Eu empresto roupas pra ela – disse Mara.
-
Presta bem atenção no que o tio vai te explicar e se cuida, filha.
Depois
de muitas recomendações e abraços, foram embora e deixaram a menina.
Os
dias passaram rápidos e as meninas aproveitaram mesmo o feriado. Quando a mãe
de Mara chamou para que Ana fosse arrumar-se para pegar o ônibus, as duas não
acreditaram.
Despediram-se e o coração de
Aninha começou a bater forte com um pouco de medo. Nunca viajara sozinha. Ao
ver o pai de Mara falar com o motorista, ficou mais calma. As duas abraçaram-se
forte e prometeram visitar-se em breve. Ana acenou até perder Mara de vista. No
ônibus muitas pessoas conversando, outras olhando a paisagem. Ana, carregando
sua mochila com brinquedos sentou-se ao lado de uma mulher. Conversaram um
pouco e ela contou que voltava para sua casa na cidade mais próxima. A mulher
contou que iria mais adiante visitar sua mãe. De repente, o ônibus parou num
lugarejo onde havia uma igreja, um salão de baile, uma casa, grandes árvores e outro ônibus. Quase todos
desceram do ônibus e embarcaram no outro. Ana olhou para todos os lados e
disse:
-
Nossa! Por que quase todos saíram do ônibus e foram para o outro?
-É
porque eles vão para Três de Maio. Ei... você também disse que mora lá. Se você
vai para lá, precisa trocar de ônibus, pois aqui eles fazem a baldeação.
Aninha
vendo que o outro ônibus já estava com o motor ligado, ficou nervosa, saiu
correndo e gritando:
-
Espera tio. Espera que eu também vou pra
Três de Maio!
Ao
sair, correndo, a alça da mochila engatou no guarda-chuva de uma senhora e ela
caiu. A senhora ajudou-a a levantar-se e o motorista que havia
esquecido da menina, fez sinal ao outro para que aguardasse. Ana continuou correndo e gritando para que lhe esperassem.
Quando alcançou o veículo, sentou-se, trêmula. Todos a fitavam. Sentiu
vergonha, raiva do motorista que não lembrou do combinado e alívio por estar ali. Quando se
acalmou, perguntou a moça que lhe
sorria:
-
Vai ter outra baldeação? Ou agora vai direto para Três de Maio.
-
Agora vai direto.
-
Ainda bem. Eu não sabia que tinha que trocar de ônibus. Nem quero pensar onde
eu pararia se ficasse no outro.
A
moça riu e perguntou como ela estava
viajando sozinha. Que corajosa!
- Corajosa nada! Ainda estou
tremendo. Mas agora eu já sei: eu quero sempre ônibus direto.
As duas riram e ao chegar a
sua casa Ana teve muito o que contar.
Nunca se esqueceu da sua primeira viagem sozinha.
5º- Lugar- Aryane Silva –Fato Real
Eu perguntei à dona Lili quem era o cara da
foto que dormia embaixo de seu travesseiro todas as noites. Ela me contou, com
palavras carregadas de saudade que ele era seu Paulo, seu segundo marido e
único amor. Que em um belo dia ele acordou cedo e com uma cartela promocional
de jornal em mãos, despediu-se da esposa com um beijo na testa e disse para os
enteados que iria à banca em outro bairro trocar os selos por uma moto em
miniatura, garantindo mais um item para sua coleção.
Ela se levantou do colchonete, olhando
ternamente para a fotografia.
- Meu coração estava apertado, eu não queria
que ele fosse, mas teimoso como uma mula, pegou a bicicleta e foi. Depois de
uns minutos, recebemos a notícia que ele tinha sido atropelado por um ônibus no
bairro vizinho e não resistiu. Desde então, eu morro cada dia um pouquinho.
Ela voltou a se deitar e beijou o retrato,
antes de colocá-lo novamente embaixo do travesseiro.
Ela pegou no sono rápido. Eu não tive a mesma
sorte. Fiquei pensando em tudo o que aconteceu, naquele ritual amoroso que ela
fazia todas as noites com a lembrança do marido morto.
No dia seguinte, quando acordei, ouvi um
choro baixinho e até imaginei o que fosse. A mãe dos meus irmãos estava dentro
de um dos quartos da casa, com a porta encostada. Minha curiosidade aguçou e eu
entrei sem ser convidada. Ela estava sentada em uma cadeira, com as cortinas
fechadas, espanando alguma coisa. Quando a luz do corredor entrou no cômodo,
fiquei pasma! O quarto estava lotado de estantes com miniaturas de ônibus
colocadas estrategicamente nas prateleiras. Cada réplica era quase idêntica aos
veículos originais, com os mínimos detalhes talhados na madeira e pintados.
Parecia uma loja de brinquedos, mas sei que não se tratava disso.
- Engraçado como é a vida, não é Ane? Meu
marido dedicou a vida inteira para essas réplicas, era conhecido pelo seu
talento e, no final das contas foi um desses que o levou de mim.
Ela continuou a espanar. E eu pensei como a
vida é irônica às vezes.
6º
Lugar- Osvaldo Valério- Sai da frente que quero passar!
Arrumei a gravata cantarolando uma
música alegre me mantendo feliz por ir trabalhar. Cinco minutos haviam passado
do horário que costumo sair. Peguei a pasta desci as escadas a mil. O cheiro de
café me fez diminuir a velocidade dos meus passos. Respirei fundo sentindo o
aroma vindo da cozinha, mas não tinha mais tempo para tomá-lo.
Não trabalho longe, são os obstáculos do
caminho que impedem a minha chegada rápido.Entrei no carro acelerando, me
sentindo o Rubinho Barrichello, principalmente quando tive que parar atrás do
ônibus que soltava uma fumaça preta do escapamento, o perfume que havia passado
fugiu do meu corpo!
É impressionante como cinco minutos que saímos atrasados faz uma grande diferença no trânsito de São Paulo. A fila de carros era enorme.
O que me irrita é a bondade de nós brasileiros. Segue um carro atrás do outro em fila e ninguém reclamam. Mas, não é reclamar com o carro do lado que não deu seta e entrou na sua frente, e sim, com as autoridades responsáveis. Exigir um meio que resolva esse problema.
É impressionante como cinco minutos que saímos atrasados faz uma grande diferença no trânsito de São Paulo. A fila de carros era enorme.
O que me irrita é a bondade de nós brasileiros. Segue um carro atrás do outro em fila e ninguém reclamam. Mas, não é reclamar com o carro do lado que não deu seta e entrou na sua frente, e sim, com as autoridades responsáveis. Exigir um meio que resolva esse problema.
Fiquei pensando o que fazer no
trânsito. Alongamento seria uma boa! Podia também, mandar as crianças que fazem
marabale no farol para escola e colocar no lugar um Circo fazendo seus
espetáculos. Como os paulistanos não têm tempo ou dinheiro para cultura, então
vamos levar a cultura para eles e, para atingir o público máximo, nada melhor,
que no trânsito.
Imagina: respeitáveis motoristas! Sei que vocês queriam estar em outro lugar, como não tem outro jeito. Vou lhe apresentar o meu número. Um aviso de última hora: os palhaços não vieram, eles não queriam concorrer com vocês ai dentro do carro!
Fui tirado da minha utopia pelo barulho de uma sirene pedindo passagem. Pensei: “ir para onde”? Vi carro na frente, atrás, do lado, joguei o meu no canteiro. Fiquei indignado com algumas pessoas que pensam que são espertas e vai seguindo atrás da ambulância para fugirem do trânsito podendo causar um acidente. Brasileiros sempre querendo tirar vantagem!
Depois de muita angústia e paciência consegui chegar ao trabalho. Começando o dia irritado, porque se peguei trânsito para vir, pegarei para voltar. Mais como sou legítimo brasileiro que aceita tudo do Governo, vou continuar meu dia buscando paciência, não sei aonde, para voltar pra casa. E assim seguimos em frente, ou melhor, tentamos...
Imagina: respeitáveis motoristas! Sei que vocês queriam estar em outro lugar, como não tem outro jeito. Vou lhe apresentar o meu número. Um aviso de última hora: os palhaços não vieram, eles não queriam concorrer com vocês ai dentro do carro!
Fui tirado da minha utopia pelo barulho de uma sirene pedindo passagem. Pensei: “ir para onde”? Vi carro na frente, atrás, do lado, joguei o meu no canteiro. Fiquei indignado com algumas pessoas que pensam que são espertas e vai seguindo atrás da ambulância para fugirem do trânsito podendo causar um acidente. Brasileiros sempre querendo tirar vantagem!
Depois de muita angústia e paciência consegui chegar ao trabalho. Começando o dia irritado, porque se peguei trânsito para vir, pegarei para voltar. Mais como sou legítimo brasileiro que aceita tudo do Governo, vou continuar meu dia buscando paciência, não sei aonde, para voltar pra casa. E assim seguimos em frente, ou melhor, tentamos...
7ºLugar- Elicio Santos do Nascimento- Câmera
Aberta
Mais
uma tarde de ônibus à escola. Contexto árido e sufocante, gente se entupindo
conformada ao seu bolso pouco. Suspirava de tanto tédio a ponto de chatear a
parceira desconhecida de assento.
Ela
me encarou algumas vezes como se a devesse explicações do meu caso, uma mulher
de aparentes trinta anos, muito branca, nem magra nem gorda, pronta a me
examinar com olhadelas curtas e fundas. Disfarçadas, porém certeiras. Não era
feia; suas feições e cabelos até que me diziam alguma coisa de fêmea, mas nossa
absurda diferença de idade queimava qualquer interesse da minha parte.
O
meu amigo Moacir, que tomara o buzú comigo lado a lado, ficara uns dois bancos
à frente após ceder lugar a uma velhinha curva. Somente ele não fisgou o auge
da viagem... Se alguém me perguntar como se pode desperceber uma briga num
veículo lotado, confesso que isso deve pertencer a algum oráculo!
No
meio da desatenção conjunta ela se aproveitou!... Dedilhou leve a minha perna
até a roça que me domou. Pensei em condená-la publicamente ou abater sua
intenção – que eu já sabia o cumprimento, mas simplesmente paralisei. Deixei
que fizesse o serviço... Minha puberdade insistida ditava-me o curioso. Erigi
ali minha primeira subida ao título de macho. O risinho sacana daquela diaba
até hoje me inculca. Alisava o meu membro trêmulo como uma cadela satisfeita...
Foi-se normalmente à saída sem qualquer desculpa ou explicação, ao menos
implícita... Nada!
Moacir é uma piada... Sair de um
orgasmo público a seco!... Sinceramente, essa imaginação fértil pertence a
poucos. Findamos o ensino médio, arrumamos emprego, e ainda como vizinhos, o
mesmo: eu escarnecendo-o às gargalhadas e ele confirmando o improvável, pra
toda galera de conclusão vaga.
Nenhum comentário:
Postar um comentário