Desafio de Agosto
Os poemas foram publicados para votação sem nome do autor e
sem ordem de classificação.
1
BARRO
Um homem nasce
em meio à solidão
como uma flor
sobre as pedras: as-
sim essa duplicida-
de. O tempo trouxe
a primeira tumba
e a civilização de
deuses, cães e
plástico.
Nos muros a hera
da morte e do sol.
Mãos de barro
tocam o rosto
macilento:
um boi poderia
suportar a carga
dos anos.
Fica
Corta, contorna
Faz do dia o espaço pra noite
E acorda
Fica, permanece
E olha de cima a face do céu
Transparente e invisível
No plano da terra amarela
Sobe o muro de nuvens que brilham
Brilham à luz do Sol contente
Brilham à vida que segue nascente
Fica, permanece
Para o poder da vida que todos esquecem
Mas não esquece, fica
Permanece
3
Jardim de
alecrim
Qualquer dia
minha nave,
vai pousar
aí,
no seu
jardim de alecrim.
Qualquer
hora, não demora,
bem aí, no
seu jardim de alecrim.
Qualquer
tempo,
sol ou chuva
de vento
ficarei
feliz, bem aí,
no seu
jardim de alecrim,
subirei no
muro,
no escuro,
tocando e
cantando, bem aí
no seu
jardim de alecrim.
4
PALAVRABISMO
Minhas
palavras andam enroscadas
como
fiapo de manga entre os dentes.
Andam
tão caladas
saboreando
os sentimentos engasgados.
Minhas
palavras andam enclausuradas
na apavorante
escuridão da boca da noite.
Andam
tão fatigadas
quanto
as retinas drummondianas,
querendo
um encosto, um muro,
um
porto mais que seguro
ou,
quem sabe, soltar um urro!
Mas elas
não conseguem...
Mi...
nhas... pa... lavras...
são minhas
pás...
... cavando...
cavando um abismo
dentro
de mim!
5
Camisa
1
Seja clássico
Ou amistoso
Contra
Ou pelada
Ele tem que estar lá
Imponente
Ágil
Sem falhas
Salta, cai
Levanta
Na hora exata
Se agiganta
É de carne e osso
Mas parece feito de alvenaria
Muro
Muralha
Parede
Vamô seu goleiro
Defenda nossa rede.
6
Parede Forte
Protege uma devida propriedade
Mantém o tal local seguro
Sinal visível da desigualdade
“Ficar em cima do muro”
Entre os muros um refém
Trancado com suas privações
Construindo os muros de Jerusalém
Devoção no muro das lamentações
Subindo no muro do quintal
Derrubando o muro de Berlim
“O muro da segregação social”
Um dia chegará ao fim...
As trombetas soaram em Jericó
Ergueram-se as muralhas da China
Sem temer o efeito dominó!
Essa parede forte predomina.
7
Metamorfose
“Ao vento mistérios
não decifrados”
Sentimentos
esquecidos,
Sofridos,
No véu de uma
lágrima.
Espalhada por entre
as folhas
Secas,
Noto que a beleza foi
aprisionada,
Abandonada num
recanto silencioso
E, hoje, jaz emoldurada
Nas sombras do
passado...
Só o vento restou!
Da saudade de uma
brisa
Ao perfume da flor
Nada sobrou!
Só vislumbro no céu
azul
Contornos
indefinidos,
Lembranças amargas
De uma paixão doída
e... maldita!
E, ao pôr do sol,
Sentada em um muro qualquer,
Revejo meus planos.
Como pano de fundo...
os sonhos.
Então, dou pontapé
nos desenganos,
Estendo minha alma
“Para além das
infinitudes”.
O vento, que no
momento me embala,
Já não é o mesmo –
foi algum dia?
Há nele uma suavidade
aparente
Até meio caliente...
Descubro que não é só
o vento
Que está diferente
- eu mesma mudei!!
CAMINHO LIVRE?
Não, não tinha
Nenhuma pedra no caminho.
Infelizmente.
Nem pedra, nem pedestre,
apenas o asfalto, o vento
e a paisagem ficando para trás...
E não havia mais nada.
Talvez, quem sabe,
Se tivesse uma pedra no caminho?
Infelizmente, no caminho
Tinha apenas um muro.
Não, não tinha
Nenhuma pedra no caminho.
Infelizmente.
Nem pedra, nem pedestre,
apenas o asfalto, o vento
e a paisagem ficando para trás...
E não havia mais nada.
Talvez, quem sabe,
Se tivesse uma pedra no caminho?
Infelizmente, no caminho
Tinha apenas um muro.
Ladra de coração
Quando te vi naquela casa de muro alto, senti um
sobressalto.
Quando consegui aquela barreira pular, estavas a me esperar.
E tu, gostando de minha ação, viraste a ladra do meu
coração.
10
Dois mundos
Você, escuro
Eu, imundo
Entre nós
um muro.
Amo sua iniciativa de incentivar a escrita. Parabéns!!!
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