segunda-feira, 18 de agosto de 2014



Desafio de Agosto 

Os poemas foram publicados para votação sem nome do autor e 
sem ordem de classificação.



1 

BARRO

Um homem nasce
em meio à solidão
como uma flor
sobre as pedras: as-
sim essa duplicida-
de. O tempo trouxe
a primeira tumba
e a civilização de
deuses, cães e
                  plástico.

Nos muros a hera
da morte e do sol.
Mãos de barro
tocam o rosto
macilento:
um boi poderia
suportar a carga
                    dos anos.


2

Fica

Corta, contorna
Faz do dia o espaço pra noite
E acorda

Fica, permanece
E olha de cima a face do céu
Transparente e invisível

No plano da terra amarela
Sobe o muro de nuvens que brilham
Brilham à luz do Sol contente
Brilham à vida que segue nascente

Fica, permanece
Para o poder da vida que todos esquecem
Mas não esquece, fica
Permanece


 3

Jardim de alecrim

Qualquer dia
minha nave,
vai pousar aí,
no seu jardim de alecrim.
Qualquer hora, não demora,
bem aí, no seu jardim de alecrim.
Qualquer tempo,
sol ou chuva de vento
ficarei feliz, bem aí,
no seu jardim de alecrim,
subirei no muro,
no escuro,
tocando e cantando, bem aí
no seu jardim de alecrim.

 4

PALAVRABISMO

Minhas palavras andam enroscadas
como fiapo de manga entre os dentes.

Andam tão caladas
saboreando os sentimentos engasgados.

Minhas palavras andam enclausuradas
na apavorante escuridão da boca da noite.  

Andam tão fatigadas
quanto as retinas drummondianas,
querendo um encosto, um muro,
um porto mais que seguro
ou, quem sabe, soltar um urro!
Mas elas não conseguem...

Mi... nhas... pa... lavras...
são minhas pás...
... cavando... cavando um abismo
dentro de mim!


5
 Camisa 1

Seja clássico
Ou amistoso
Contra
Ou pelada
Ele tem que estar lá
Imponente
Ágil
Sem falhas
Salta, cai
Levanta
Na hora exata
Se agiganta
É de carne e osso
Mas parece feito de alvenaria
Muro
Muralha
Parede
Vamô seu goleiro
Defenda nossa rede.

6

Parede Forte

Protege uma devida propriedade
Mantém o tal local seguro
Sinal visível da desigualdade
“Ficar em cima do muro”

Entre os muros um refém
Trancado com suas privações
Construindo os muros de Jerusalém
Devoção no muro das lamentações

Subindo no muro do quintal
Derrubando o muro de Berlim
“O muro da segregação social”
Um dia chegará ao fim...

As trombetas soaram em Jericó
Ergueram-se as muralhas da China
Sem temer o efeito dominó!
Essa parede forte predomina.

  

Metamorfose

“Ao vento mistérios não decifrados”
Sentimentos esquecidos,
Sofridos,
No véu de uma lágrima.

Espalhada por entre as folhas
Secas,
Noto que a beleza foi aprisionada,
Abandonada num recanto silencioso
E, hoje, jaz emoldurada
Nas sombras do passado...

Só o vento restou!
Da saudade de uma brisa
Ao perfume da flor
Nada sobrou!

Só vislumbro no céu azul
Contornos indefinidos,
Lembranças amargas
De uma paixão doída e... maldita!

E, ao pôr do sol,
Sentada em um muro qualquer,
Revejo meus planos.
Como pano de fundo... os sonhos.
Então, dou pontapé nos desenganos,
Estendo minha alma
“Para além das infinitudes”.

O vento, que no momento me embala,
Já não é o mesmo – foi algum dia?
Há nele uma suavidade aparente
Até meio caliente...
Descubro que não é só o vento
Que está diferente
- eu mesma mudei!!



CAMINHO LIVRE?


Não, não tinha

Nenhuma pedra no caminho.

Infelizmente.

Nem pedra, nem pedestre,

apenas o asfalto, o vento

e a paisagem ficando para trás...

E não havia mais nada.

Talvez, quem sabe,

Se tivesse uma pedra no caminho?

Infelizmente, no caminho

Tinha apenas um muro.

 9
Ladra de coração

Quando te vi naquela casa de muro alto, senti um sobressalto.
Quando consegui aquela barreira pular, estavas a me esperar.
E tu, gostando de minha ação, viraste a ladra do meu coração.


10 
Dois mundos

Você, escuro
Eu, imundo
Entre nós
um muro.

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